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13 09 2013
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Ano de produção  2012

Dirigido por  Gauri Shinde

Com  SrideviAdil HussainMehdi Nebbou

Gênero  Drama , Comédia

Nacionalidade  Índia

Uma mulher passa por grandes dificuldades na sociedade onde vive, por ser tímida e por não falar inglês. As circunstâncias forçam-na a afirmar sua independência, inscrevendo-se em um curso de inglês e provando ao mundo que ela é tão capaz quanto qualquer outra mulher.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-208664/

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Indicação

Um filme leve, divertido, bem-humorado e, à primeira vista, despretensioso. Apesar de repleto de clichês, nos conduz a uma profunda reflexão sobre os papéis masculino/feminino, do que aprendemos a denominar atividade/passividade e também sobre a possibilidade de um mundo onde não haja “excluídos”, onde os seres humanos se amem e  respeitem as singularidades de cada um. Shashi é a representante de um universo onde a submissão e a anulação de sua identidade são regras para as mulheres. Ela vive a privação e a insatisfação de sequer tentar se realizar e perseguir seus anseios e sonhos. Se vitimiza e delega ao outro o reconhecimento de seu próprio valor, até que as circunstâncias da vida a empurram para uma tomada de decisão: é ficar congelada no velho e conhecido lugar de vítima ou se arriscar e assumir a responsabilidade por suas escolhas, tomando as  rédeas do próprio destino. A partir daí ela se decide e caminha rumo à sua autonomia. O caminho nem sempre será fácil, porém, trará consigo um enorme sentimento de amor-próprio e mais-valia.

Por Giselle Soares Oliveira – Regional Goiás





Minhas Tardes com Margueritte

10 09 2013

Minhas tardes com Margueritte

Título Original   La Tête en friche

Ano de produção 2010

Dirigido por Jean Becker

Com Gérard DepardieuGisèle CasadesusJean-François Stévenin mais

Gênero Comédia Drama

Nacionalidade França

 

Sinopse

Baseado no livro de Marie-Sabine e dirigido por Roger Jean Becker, o filme Minhas Tardes Com Margueritte conta a história de um daqueles improváveis encontros que podem mudar a vida de uma pessoa. A trama se passa em torno de Germain, um cinquentão quase analfabeto, e Margueritte (Gisèle Casadesus), uma senhora apaixonada por livros.
Quarenta anos e muitos quilos os separam, mas, por acaso, Germain (Gérard Depardieu) senta ao lado dela em um banco no parque. Ela recita versos em voz alta, dando a ele a chance de descobrir a magia dos livros, que nunca fizeram parte da vida dele.
As coisas mudam quando o homem descobre que Margueritte está perdendo a visão e, pelo carinho e afeto que foram criados da relação, ele se esforça para aprender e mostrar que ele poderá ler quando ela não puder mais.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-170300/

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Indicação 

Ternura, leveza, amizades sinceras e comportamentos humanos. Uma bela história de amizade e amor..

O cativante Germain não só vende os legumes e verduras como cultiva tudo em sua pequena horta. Sua relação com a namorada é de extrema delicadeza e, a partir de seu contato com Margueritte, percebemos como ele é sensível, amoroso e fraterno. É ele que cuida da mãe, que continua ranzinza até morrer. É ele que, nos momentos de necessidade, consola e dá guarida aos amigos. O brutamontes na verdade é um homem gentil e solidário.
Esse diamante quem dilapidou foi Margueritte, com a palavra, com a literatura. A palavra trouxe aquele menininho acuado para a realidade, de um mundo obscuro e introspectivo para a luz e o amor. Germain se esforça para aprender e ler para aquela que passou a ser sua verdadeira mãe, Margueritte.

O filme mostra, de forma delicada e sensível, que é possível ir além de nossas limitações, mesmo a partir de experiências infelizes, de falta de expressão de amor, carinho e apreciação. Que podemos, sempre, fazer novas escolhas pelo amor, pela amizade, pela generosidade e pela fé na VIDA

Por Giselle Soares Oliveira – Regional Goiás.





Um Segredo Entre Nós

23 01 2012

Título original: (Fireflies in the Garden)
Lançamento: 2008 (EUA)
Direção: Dennis Lee
Atores: Ryan Reynolds, Emily Watson, Carrie-Anne Moss, Hayden Panettiere.
Duração: 99 min
Gênero: Drama

Sinopse
Michael Waechter (Ryan Reynolds) é um escritor que está de volta à casa de sua infância, devido à tardia formatura de sua mãe, Lisa (Julia Roberts). Charles (Willem Dafoe), pai de Michael, discute com a mulher no carro e termina causando um acidente, no qual Lisa morre. Envolvido com o ocorrido e a descoberta do passado da mãe, Michael precisa ainda decidir se irá publicar “Fireflies in the Garden”, seu novo livro, no qual expõe as memórias de sua infância complicada.
Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/segredo-entre-nos/

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Reflexões sobre o filme

Um segredo entre nós

O filme trata da relação de uma família disfuncional. Uma história de equívocos humanos que em algum nível muitos de nós vivemos.

No filme fica claro o sofrimento e os traumas vividos por Michael em sua infância. Os traumas e estímulos negativos repetidos nessa idade nem sempre ficam tão claros, muitas vezes são sutis e encobertos por disfarces múltiplos, tais como:  crítica, gracejo ou comentário desqualificador  repetido muitas vezes; exigência jamais satisfeita; repressão de sentimentos, emoções e instintos; repressão da autêntica expressão; comportamentos e atitudes contraditórias e exigências descabidas; ausência de proteção, de cuidados ou de assistência, omissão; falta de diálogo, de consideração, de elogios gratuitos; exigência de responsabilidade desproporcionais a idade; desrespeito a individualidade  e singularidade dos filhos; comparação entre eles, preferências para direção do amor e atenção; rejeição de comportamentos por preocupação com a opinião alheia, em detrimento as reais necessidades dos filhos; a superproteção, a falta de limites, cobertura das distorções dos filhos, aquiescência e leniência ao erro, são também estímulos negativos e prejudiciais, apesar de não tão evidentes.

O comportamento disfuncional explícito de Charles, com sua exigência perfeccionista, atitude agressiva, na conduta desqualificadora e punitiva, saltam aos olhos e é facilmente detectável. Muito mais difícil é perceber outras disfuncionalidades em comportamentos mais sutis, mascarados por disfarces de boa conduta, de adequação e civilidade.

É preciso perceber a disfunção da submissão, da omissão e da não proteção por traz da educação, fineza e magnanimidade do comportamento de Lisa, mãe de Michael.

Charles não era o vilão, e Lisa não era a vítima e nem tampouco somente uma boa pessoa que tolerava as inadequações do marido. Ambos eram responsáveis pela disfunção daquela família. Ela era cúmplice e co-responsável. Na omissão era igualmente disfuncional e negava também para si e para os filhos a realidade. Buscou outro homem como escape de sua infelicidade e planejava deixar o marido assim que estivesse segura financeiramente. Era humana e falha como Charles e todos nós, apesar de sua atitude discreta.

Se os adultos são responsáveis por suas ações e/ou omissões, seria então os filhos as reais vítimas desta situação? Os pais seriam os culpados e os filhos totalmente inocentes e, portanto, vítimas injustiçadas? E se os pais, em suas distorções, são frutos das distorções e ignorância dos pais deles, que por sua vez, dos pais dos pais deles, então, de quem é a culpa? Se de fato eles reproduziram o que vivenciaram?

Por que filhos de mesmos pais, que receberam em algum nível estímulos e tratamento semelhante, reproduzem no futuro um comportamento muitas vezes tão diferentes? Porque uns superam mais fácil do que outros?
Se a personalidade é fruto do meio, o que define a individualidade, se ela é tão distinta?

Se somos vítimas de nossos pais e, portanto, isento de responsabilidades e se nossa conduta distorcida, são apenas uma consequência das deles,  de quem é a responsabilidade pelas disfunções de nossos filhos?

Se ninguém é culpado sozinho, não será porque todos nós somos igualmente responsáveis em algum nível?

Será que o verdadeiro culpado não é a nossa ignorância e a nossa imperfeição humana? E se todos somos humanos e imperfeitos, uma solução não poderia ser buscarmos em nós mesmos as nossas distorções e as corrigirmos? Se não somos vítimas, não seria mais proveitoso parar de se lamentar, se lastimar e se esforçar para a própria mudança e transformação pessoal?

Seguindo esse raciocínio é importante refletir a ideia de que se não somos culpados únicos e nossos pais também não o são, isso não significa que eles ou nós não sejamos responsáveis pelas feridas que causamos.

Mesmo que tenhamos justificativas para nossas falhas e nossos pais , avós e ascendentes também, isso não nos exime da responsabilidade que de um dia termos causado ferida a alguém. Temos o direito de sentir nossas dores e nossas emoções pelo fato de termos sido feridos, da mesma forma que temos que dar o direito de quem tenhamos ferido, de sentir o mesmo.

Temos todos o direito de sentir e digerir e processar esses sentimentos, provavelmente só assim poderemos perdoar aos que nos feriram e perdoar a nós mesmos a ferida que causamos.

O diretor do filme nos lembra que os acontecimentos trágicos, aproxima e diminui as distâncias. Michael escolhe guardar o segredo da família, não publicando o livro autobiográfico, pois percebe que também teve bons momentos com seu pai, portanto, talvez tenha se dado conta que estava fixado apenas num lado de sua história.

No fim, até onde a história do filme conta, podemos perceber, o que também acontece na vida real: sem processarmos a nossa dor e curá-la dentro de nós,  jamais poderemos  curar a separação e a mágoa entre nós e quem nos feriu.

Por Flávio Vervloet





FOGO SAGRADO

10 10 2011

Sinopse

Ruth Barron, uma bela jovem que mora com os pais e irmãos no pequeno vilarejo de Sans Souci, na Austrália, sente que algo está faltando em sua vida, mais especificamente na cultura ocidental.  Decide, então, viajar para a Índia onde se integra à legião de fanáticos de um guru, Chidaatma Baba.  Lá, ela passa a se chamar Nazni e a se vestir com o sári, traje nacional das mulheres indianas.

Seus familiares ficam alarmados e tomam a decisão de reconquistar sua filha, utilizando os serviços de um conselheiro espiritual americano, P. J. Waters.

(para ler mais clique no link abaixo)

http://www.65anosdecinema.pro.br/1617-FOGO_SAGRADO_%281999%29

 

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Reflexões sobre o filme

Todos nós possuímos aspectos ainda não conhecidos ou integrados na consciência. Um desses aspectos, nosso lado destrutivo, nos traz muitos problemas e sofrimentos. Para alcançarmos uma vida plena e feliz, é muito importante conhecê-lo e identificar onde ele atua em nossa vida. Esse aspecto que podemos chamar de “eu destrutivo” tem muita força e vitalidade, é muito antigo e faz parte da nossa humanidade. (clique para ver mais)

O filme Fogo Sagrado é rico em conteúdos, principalmente relacionados com a sombra e as distorções humanas,  ressaltando a sexualidade e o prazer atrelado a dor.

O personagem PJ (Harvey Keitel) representa o estereótipo da “máscara do poder distorcido” ou defesa da agressividade. Possui comportamento presunçoso, se acha o “dono da verdade”, acredita que tenha controle das situações, que seja bem sucedido em tudo que faz, aparenta ser forte, durão, usa da vontade e inteligência para garantir o cumprimento de suas metas. Acredita dessa forma, que tenha controle suas emoções e busca controlar o mundo.  Confia que detém o saber, as certezas e superestima suas qualidades de gerenciamento de si mesmo.

PJ Waters sabia do risco ao aceitar a tarefa de resgatar Ruth das influências do guru indiano e trazê-la de volta a realidade, sobretudo sozinho. Cedeu, no entanto, motivado provavelmente por se tratar de um desafio e por encantar-se com a beleza e jovialidade dela.

A personagem Ruth (Kate Winslet) poderia dizer que representa o estereótipo da distorção da “máscara amor” ou a defesa da submissão. Possui um comportamento simpático, sensível, emocional, não se valoriza o suficiente, comunicativa, alegre, envolvente, amorosa, anseia ser acolhida e salva. É sonhadora e tende a entregar seu próprio poder nas mãos do outro e assim ter garantias de ser amada, mesmo que de forma fantasiosa.

Sua mãe complementa esse tipo de defesa (máscara do amor) com a manipulação pela culpa e vitimização,  somatização com intuito de controle, lamentação, submissão, dependência, necessidade de agradar, ingênua, não tem acesso  a raiva, tem dificuldade em dizer não e colocar limites,  sensibilizando os outros para sua dor.

No desenrolar do filme na tarefa de resgatar e salvar a sanidade de Ruth , PJ vai perdendo a sua própria sanidade e mergulhando nas suas próprias sombras e distorções.

Ruth dá espaço também para que sua sombra  e distorções se revele a medida em que a batalha entre ambos se trava num verdadeiro duelo ou jogo de braço, saindo da proposta inicial, o aspecto religioso e indo para o sexual.

O enredo do filme nos dá a oportunidade de conhecer a distorção por trás da defesa,  principalmente do poder (agressividade) e da amorosidade (submissão). Essas distorções normalmente são inconscientes, não sendo assim percebidas pelas pessoas.

No personagem PJ, fica evidente o comportamento de abuso de poder, coação e opressão, dureza,  subjugação, sedução para controle, comportamento invasivo, competição, vaidade excessiva, sexo desconectado de afeto como consumo de prazer pelo prazer (com Yvonne).

A personagem Ruth, evidencia o comportamento sedutor para obtenção do seu desejo, dissimulação,  negando suas próprias distorções, obstinação atendendo seus próprios anseios sem cuidar do seu equilíbrio e sentimento de superioridade espiritual.

No duelo entre os personagens principais, vai desvelando mais e mais o lado destrutivo como defesa extrema para proteção da dor. Esse aspecto,  poderíamos chamar do “eu inferior” ou “lado sombrio da sombra”.

Esse lado fica explícito quando o personagem PJ manifesta crueldade ativa, endurecimento, congelamento e entorpecimento dos sentimentos,  disputa destrutiva, malícia, prazer associado a dor, rendimento como forma de conquista, auto-desqualificação, autopunição, auto humilhação e descontrole.

A personagem Ruth também manifesta crueldade ativa,  através da humilhação, endurecimento, congelamento e entorpecimento dos sentimentos, disputa destrutiva, vingança, malícia, desprezo, raiva ferina, sedução para subjugar, prazer no jogo de envolver sem se entregar e assim obter controle e poder.

Quando a máscara e auto-imagem idealizada de PJ Waters se quebram, mergulha na vulnerabilidade, na dependência, na derrota, na humilhação (o que provavelmente sempre evitou). Conecta seu desamparo original e desmonta, ficando totalmente a mercê  de ser acolhido e visto por ela.

Ruth, que inicialmente se deliciava com seu poder e triunfo, entra também na dor (com o pedido de PJ para que seja “amável”), com isso fica vulnerável, permitindo a quebra da sua autoimagem de “boa pessoa” e percebendo mais profundamente seu congelamento afetivo, além de maior percepção da sua capacidade destrutiva.

O ápice do filme é quando Ruth sensibilizada pelo estado de PJ Waters,  entra em conexão com seu self (Eu Superior) e permite vir a tona as virtudes reais de amor e compaixão e dessa forma pode acolher verdadeiramente, permitindo a expressão de sua verdadeira natureza.

No final, em posse do seu Eu Real (Eu superior + Eu inferior), Ruth, retoma sua busca espiritual a partir de valores mais reais e verdadeiros. PJ Walters é perdoado por sua companheira, torna-se pai de gêmeos, escreve o segundo livro sobre “Um homem e seu anjo vingador’. De alguma forma ambos foram “vencedores” no final, pois somente através da exteriorização dos nossos conflitos e distorções que poderemos fazer as transformações necessárias. O filme nos mostra a humanização dos personagens principais,  na medida em que permite a exteriorização do lado destrutivo e também dos aspectos saudáveis da natureza humana.

Por Flávio Vervloet





O Poder das Trevas

9 03 2011

Informações Técnicas
Título no Brasil:  O Poder das Trevas
Título Original:  Legend of Earthsea
País de Origem:  EUA
Gênero:  Aventura
Classificação etária: 14 anos
Tempo de Duração: 147 minutos
Ano de Lançamento:  2004
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.:  Alpha Filmes
Direção:  Robert Lieberman

Sinopse

Protegido pela Supra Sacerdotisa Thar nas catacumbas de Atuan, o Amuleto da Paz assegurou por séculos em Earthsea o equilíbrio entre humanos e dragões. Agora o futuro não parece tão promissor pois, em decorrência de um ataque do rei invasor Tygath, o amuleto foi quebrado e uma das partes sumiu. A única chance de resgatar a paz se concretiza em um jovem ferreiro e aprendiz de mago chamado Ged. Dos labirintos dos Inominados às câmaras secretas de Earthsea, Ged, a sacerdotisa Tênar e Ogion enfrentarão perigos fantásticos numa jornada mágica para restaurar a Paz e enfrentar o Rei Tygath.

http://www.interfilmes.com/filme_15722_O.Poder.das.Trevas-(Legend.of.Earthsea).html

Para ver o filme: http://filmesmegavideo.net/o-poder-das-trevas-dublado-online/

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Reflexões sobre o filme

Este é o título sugestivo de um filme interessante. Trata-se de um épico que tem lugar num espaço-tempo do tipo “era uma vez” mas que retrata fielmente lutas humanas bem atuais. Batalhas facilmente  observáveis nas politicas interna e externa dos países, nos grandes e pequenos dramas humanos e se formos bem perspicazes, dentro de nós.

Junte os ingredientes: busca pelo poder a qualquer preço, imprudência e impaciência,  medo e coragem, orgulho e humildade e finalmente a busca pela eterna juventude e temos a mistura perfeita de um enredo que prende a atenção até o final. Claro que não podem faltar a mocinha, o herói, o vilão e o amigo fiel.

O filme começa numa pequena vila perdida, não se sabe onde. Um jovem orfão de mãe, quer algo mais da vida do que seguir os passos de ferreiro do pai. Acontece que ele tem mesmo um dom e acaba como aprendiz de um grande mago, à moda antiga, que sugere que ele comece de baixo e vá galgando os degraus do conhecimento, mas o futuro herói é impaciente e quer subir logo, sendo então encaminhado para uma escola de Magia, onde é claro,  vamos encontrar o filhinho de papai pronto a humilhar o insignificante filho do ferreiro sem pedigree. E numa competição de egos, daquelas que todos se envolvem algumas vezes ao dia, nosso filho do ferreiro, pretendente a mago evoca os mortos, e, opa, por engano liberta um poderoso ser das trevas, chamado um dos “inominados”, que passa a persegui-lo.

Ele perde o posto de aluno e passa a fugir do seu algoz.

Paralelamente conhecemos um templo que guarda em seu labirinto subterrâneo a porta de entrada onde os poderes do mal – os inominados – estão trancafiados. Uma venerável sacerdotisa guarda o local e é responsável por passar a sua sucessora as chaves e as palavras rituais que protegem a porta.

Claro que o templo se situa nas terras de um rei sanguinário e autoritário que deseja poder e juventude eternos e vai tentar por todos os meios alcançar seus objetivos.

Nosso herói tem então seu primeiro embate com o poder do mal que liberou e foge apavorado se refugiando junto ao seu primeiro mestre.

O Mestre verdadeiro mostra o caminho e encoraja o pupilo a enfrentar o que teme e ver o que acontece. A única forma de vencer o poder do mal seria saber seu nome e isto ninguém sabe.

O jovem então, já um pouco mais calejado, se conscientiza que precisa assumir responsabilidade por sua vaidade e imprudência e segue em busca do seu destino.

Importante notar que ele não culpou a ninguém ou ficou chorando sua má sorte. Fez o que julgou ser o certo.

Ele então encontra sua missão pessoal que é destruir o poder do mal que inadvertidamente liberou e manter a paz do reino conhecido já que detém metade do amuleto que assegura que todos os “inominados” fiquem onde estão, presos no labirinto do templo.

Vale ressaltar que seu algoz se fortalece a medida que nosso herói o teme e passa a cometer atrocidades pelas quais nosso Herói é responsabilizado.

E não é isso que acontece na vida? Ficamos colocando a culpa de nossa criação fora de nós, por não reconhecermos a parte em nós que cria destrutivamente.

Quando nosso herói, levado pela vaidade, faz bobagem, ele volta e pede ajuda ao velho mago retomando o caminho que é mais longo embora mais seguro. No caminho vai desenvolvendo a força necessária para encarar seus medos e enfrentar o que eles encobrem.

“Se você continuar fugindo, o mal lhe guiará e escolherá seu destino.”

O filme trata sobre a milenar luta entre o bem e o mal. É uma luta travada no nível individual e coletivo. Sendo o coletivo o reflexo da luta interior.

Somos ambiciosos e impacientes e queremos alcançar nossas metas sem precisar pagar o preço devido por elas. Nossas escolhas então trazem consequências e ao assumir responsabilidade por elas vamos galgando lentamente os degraus que nos levam a maior consciência. E quando somos conscientes temos poder de escolha e passamos a criar a partir dessa visão mais ampla, alcançando melhores resultados.

A reviravolta, a mudança de rumo é o momento em que o herói é instruído pelo Mago a passar de perseguido a perseguidor. Pois se gastamos nossa energia fugindo do mal ao invés de enfrentá-lo, seremos vencidos por ele. Mas se nós passamos a persegui-lo… essa é uma investigação interessante. Vejamos o que acontece.

Pois no momento em que nosso herói resolve enfrentar o “inominado” que o persegue ele percebe que temer ou ficar com raiva e rejeitá-lo é que confere força àquele ser e finalmente percebe que o nome do inominado é o mesmo dele. Era uma parte que precisava ser aceita e assim o fez, recuperando o poder contido na sombra. E se tornou inteiro, forte e capaz de levar a cabo sua tarefa frente ao reino: mas, ao invés de manter os poderosos e eternos “inominados presos” ele os libertou surpreendendo a todos. Pois tinha descoberto o segredo da sombra. E então, a paz se fez e foram felizes para sempre.

Quando lutamos contra o mal que está aparentemente fora de nós estamos na ilusão pois, a luta real é travada no interior. Não podemos nos entregar ao medo e sim fortalecer nossa fé com empenho diário e vigilância. A saída não é negar, temer ou se encolerizar contra o mal, mas reconhece-lo como parte de nós tomando posse da energia ali armazenada e que somos nós mesmos em última instância. Não nos tornamos melhores ou especiais, apenas inteiros e isso faz uma grande diferença.

Por Lucia Teixeira Rosa – Regional Distrito Federal





9 – A Salvação

15 01 2011

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Gênero: Animação, Aventura, Fantasia e Ficção Científica
Duração: 79 min.
Origem: Estados Unidos
Estréia 09 de Outubro de 2009
Direção: Shane Acker
Roteiro: Pamela Pettler e Shane Acker
Produção: PlayArte
Censura: Livre
Ano: 2009

Sinopse

Quando o boneco 9 ganha vida, ele se encontra num mundo pós-apocalíptico em que os humanos foram dizimados. Por acaso, encontra uma pequena comunidade de outros como ele, que estão escondidos das terríveis máquinas que vagam pela Terra com a intenção de exterminá-los. Apesar de ser o novato do grupo, 9 convence os demais que ficar escondido não os levará a nada.

Eles devem tomar a ofensiva se quiserem sobreviver e, antes disso, precisam descobrir por que as máquinas querem destruí-los. Como eles saberão em breve, o futuro da civilização pode depender deles.

Fonte da sinopse e ficha técnica: http://cinema10.com.br/filme/9

Para ler mais: Animação “9 – A Salvação” é produzida por Tim Burton – O Globo – http://tinyurl.com/yblax8t

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Reflexões sobre o filme

Um filme de animação com diversão e profundidade. Com muitas mensagens e com muito material para reflexões.

O roteiro é de um futuro assolado por máquinas mortíferas que destroem a humanidade, neste filme, no entanto, há uma mensagem de esperança. A de que se unirmos as diferenças, dentro e fora de nós, criaremos força de renovação e vida. Um filme que pelo que tudo indica é baseado no Eneagrama ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Eneagrama ) que descreve os 9 tipos de personalidade.  Este sistema descreve a queda e a ascensão possível da consciência humana, segundo nove padrões.

Os nove bonecos sobreviventes foram criados a partir dos nove aspectos de seu criador, cada aspecto diferente e complementar aos outros. A máquina também foi criada a partir da distorção e limitações dos nove tipos, e representa a morte e a aniquilação. Vida e morte, construção e destruição, união e separação, dualidades explícitas no filme que aponta a escolha da integração e união como antídoto para o mal.

Há uma fala que se repete muitas vezes no filme “busque na fonte…”. Na fonte está a resposta – no criador, na alma, no espírito do homem.

Ao “pacificador”, o tipo 9, ficou a tarefa de agregar o grupo e levá-los à meta de salvar os integrantes e destruir o monstro. No entanto,   só com a união das qualidades de cada tipo, o 9 pode levar a cabo sua missão. E curiosamente o monstro era movido pela “vida” de cada tipo em distorção. A luta entre os 9 e a máquina lembra o mito do herói enfrentando seus dragões, simbolizando a luta e batalha interior pela supremacia do bem.

Um filme encantador que vale a pena ser visto.  O diretor é Tim Burton, um nome  já bastante conhecido,  dirigiu  “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “A Noiva Cadáver” e  “O estranho mundo de Jack”, entre outros. Divirta-se e inspire-se.

Por Flávio Vervloet





Dúvida

12 10 2009

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Sinopse

O carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os rígidos costumes da escola St. Nicholas, localizada no Bronx. A diretora do local é a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que acredita no poder do medo e da disciplina. A escola aceitou recentemente seu primeiro aluno negro, Donald Miller (Joseph Foster), devido às mudanças políticas da época. Um dia a irmã James (Amy Adams) conta à diretora suas suspeitas sobre o padre Flynn, de que esteja dando atenção demais a Donald. É o suficiente para que a irmã Aloysius inicie uma cruzada moral contra o padre, tentando a qualquer custo expulsá-lo da escola.

Fonte da sinopse: http://www.adorocinema.com/filmes/duvida/duvida.asp

Reflexões sobre o filme

Este é um filme inteligente e bem elaborado que nos induz à confusão e à dúvida ao longo de todo seu enredo. A irmã, desde o início, torna-se alvo de preconceito, pois somos levados a percebê-la como “megera” e o padre como “bonzinho”. Normalmente na vida, quando em dúvida, todos nós buscamos nos firmar em uma “verdade”, mesmo que encontrada ou construída por conclusões apressadas, para aliviarmos a ansiedade de não saber discernir o “certo” do “errado”. No caso do filme, a tese de que a irmã é megera e o padre é humano e inocente. No transcorrer da história, no entanto, os fatos vão se esclarecendo, vamos percebendo outros aspectos importantes, que nos faz não ter mais certeza de quem de fato é culpado ou inocente, bom ou mau. E podemos ver, ao final, que os três personagens principais têm verdades e distorções, de tal forma que não é tão simples julgá-los, tal como achávamos ou gostaríamos.

O filme retrata a complexidade da verdade e o quanto, em sua busca, corremos o risco do erro e da injustiça. Mais: o filme nos mostra o quanto, apesar de nossas certezas internas, paira sobre nós a dúvida.

Temos a tendência de simplificar as situações em nosso julgamento, definindo rapidamente quem é o “mocinho” e quem é o “bandido” e não percebemos o quanto é difícil julgar e como é complexo  discernir o certo do errado. Declaramos rapidamente alguém culpado ou inocente, concluindo apressadamente a favor de um em detrimento de outro, sem perceber que a superficialidade dos elementos que temos para chegar a essa ou aquela conclusão.  O filme nos faz refletir como é difícil agradar as pessoas e ao mesmo tempo fazer valer a verdade.  Faz-nos lembrar também o quanto é necessário confrontarmos a nossa consciência e nos enxergarmos humanos, percebendo que de fato, em função da nossa complexidade, temos, ao mesmo tempo, um lado bom e outro ruim. Por isso, nem sempre estamos totalmente certos ou com a verdade, como gostaríamos. Precisamos enfrentar a nossa conivência e leniência com as nossas distorções,  muitas vezes ocultadas com nossa persona.

Será que basta reconhecermos nossa culpa ou o nosso erro? Ou é necessário também reconhecermos a nossa impotência em cessar de atuá-lo? E se este é o caso, será que a nossa impotência não indica que precisamos de ajuda para deter o comportamento em que estamos aprisionados?

É comum termos pena de nós mesmos e, conseqüentemente, dos outros. O que, num certo sentido, pode até explicar a conivência com distorções de conduta, seja com as nossas distorções ou a de outros.  Isso também explica, num outro extremo, quando somos implacáveis, também com as nossas ações e a de outros. Muitas vezes, para não sermos coniventes, vamos  em direção ao lado oposto e nos tornamos rígidos, duros e inflexíveis.

Existe uma verdade além das nossas verdades pessoais? Ou basta ter mais argumentos, argúcia, inteligência, esperteza para estarmos certos e por isto mesmo com a verdade? Comumente, cada um constrói suas verdades pessoais baseado em conclusões que tira a partir de suas experiências de vida. Conclusões estas que se tornam o filtro pelo qual interpretamos a realidade. Julgamos e agimos a partir deste discernimento pessoal.

Por toda esta reflexão que provoca, Dúvida é um filme que vale a pena ser visto.  Isso sem contar o fato de que, como sempre, Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman dão um show de interpretação.

Por Flávio Vervloet





Choque de Classes

12 08 2009

CHOQUE DE CLASSES (2004)

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Sinopse

Homem cansado de rotina familiar com a esposa conservadora e com a irmã dominadora dirige-se a cidade para encontrar sua outra irmã, dona de boate, gerando um choque de classes tão divertido quanto surpreendente. Do mesmo diretor de Pauline & Paulette, filme que ganhou o Prêmio Ecumênico Especial do Júri em Cannes em 2001.

Reflexões sobre o filme

O filme trata do choque entre o tradicional e a transgressão do comum. É um olhar não preconceituoso e não discriminativo do diretor sobre o tema.

Tuur, um homem cansado da rotina em que vive, está profundamente mal-humorado no dia de seu aniversário de casamento. Ele tem um relacionamento tradicional, em que a rotina gerou apatia e estagnação. Além disso, o casal acomodou-se à presença de uma irmã de Tuur dominadora, manipuladora e geniosa. É possível que essa irmã também tenha se acomodado à situação.

Em determinado momento, essa incômoda situação gera fato inédito: Tuur resolve sair de casa e procurar sua outra irmã, que vivia situação oposta à dele. Ela sentia-se rejeitada pela família, por ter escolhido viver de forma e em local diferente.

A visita inesperada de Tuur à irmã de quem se distanciara leva essa personagem de volta ao passado, para rever fantasmas familiares. Contente com a presença do irmão, a irmã demonstra que o quer a seu lado, para fazer-lhe companhia e para compartilhar. O contato entre ambos traz novo significado à vida dessa irmã.

Com o afastamento de Tuur, sua mulher, Emma, encontra seu próprio valor, brilho pessoal, força e coragem para viver. Depois que marido e mulher passam pelas experiências necessárias à transformação de cada um, o que confere novo significado a suas vidas, eles se reaproximam de coração aberto. Após o reencontro, seguem juntos, felizes.

A vida seria mais fácil se as mudanças fossem encaradas como desafios e não como tragédias. Mas isso só seria possível se, em vez de culparmos os outros, assumíssemos a vida como destino pessoal criado, muitas vezes, por nós mesmos.

Frequentemente, a rotina, as regras, as normas, os papéis sociais geram estagnação e paralisam os indivíduos. Nessa situação, os sentimentos tornam-se inacessíveis, as sensações ficam entorpecidas e a razão resta embotada.

É comum a insatisfação, as frustrações, as doenças, os transtornos psíquicos ou algum acontecimento levarem-nos a situações de crise, que revira nossos conceitos, preconceitos e paradigmas. A crise nos acorda do torpor e movimenta a vida dentro de nós. A vida parece não suportar a estagnação e a tudo impulsiona em direção ao crescimento e à expansão.

Por Flávio Vervloet





Powder Blue

12 08 2009

POWDER BLUE (2009)

Forrest Whitaker as Charlie 1

Sinopse

Rose é uma stripper que, para salvar seu filho de doença terminal, tem sua vida entrelaçada com a de um ex-padre suicida, um ex-condenado e um agente funerário, em noite de réveillon.

Reflexões sobre o filme

Um filme denso, com forte carga dramática, no estilo de Crash e Magnólia. Os destinos de vários personagens se cruzam por caminhos espinhosos.

Há um desejo comum a todos os seres humanos: ter amor, felicidade, paz e uma boa vida. Mesmo que cada um interprete esses estados de alma de forma diferente, no fundo, de forma muito distinta e pessoal, buscamos as mesmas coisas. Com esse objetivo, cada um segue seu caminho, influenciado por seu passado; por suas experiências de vida; e pelo ambiente em que foi criado, incluindo família, amigos, escola, cultura e aspectos econômicos e sociais nos quais foi inserido.

Em função desses fatores, cada pessoa desenvolve uma forma de estar no mundo e de sobreviver. Mas, independentemente da direção e dos resultados dessas atitudes, que são induzidas por mecanismos de defesa e de sobrevivência, ansiamos por amor – sob a forma de aceitação, acolhimento e proteção –, por reconhecimento, por compartilhar e por nutrição afetiva.

Apesar de nossos anseios e necessidades serem semelhantes em algum nível, o resultado de nosso direcionamento nem sempre é o mesmo. Somos levados a pensar que, além da influência do meio e de tendências genéticas, há um “algo mais” que a ciência ainda não explica, que nos influencia a buscarmos caminhos que não compreendemos: o caráter.

Parece que nossas escolhas são menos gerenciáveis e voluntárias do que queríamos. Somos, muitas vezes, arrastados por impulsos e por motivações, por padrões de pensamento, por emoções e por atitudes que não dominamos ou, ao menos, não controlamos como gostaríamos.

O filme vale a pena ser visto. Trata de uma realidade profundamente humana, em que todos estamos insertos, ainda que nos sintamos acima dela. Todos vivemos pequenos e grandes dramas pessoais, que são, antes de tudo, profundamente humanos. As realidades desses dramas sociais e pessoais nos assemelham em algum nível, irmanando-nos.

A busca de um lugar para si, por caminhos diferentes. Um lugar-comum de solidão e de dor profunda que mora no coração anônimo da maior parte dos indivíduos em um grande centro urbano. O desespero de uma perda afetiva associado a sentimento de culpa e de castigo. A tentativa de reparar um passado desastroso. A busca desesperada de uma mulher para ajudar seu filho, que está em estado terminal e que representa o único sentido da vida dela. A carência e a solidão profundas aliviadas pela existência de um animal de estimação. O desejo de encontrar o amor em meio à tragédia, um sonho incansável de todo ser humano, ainda que alguns desistam dele.

Destaco três cenas do filme: a aproximação entre Qwerty (agente funerário) e Rose (stripper); o diálogo entre Charlie (ex-padre) e Lexus (travesti); e o encontro de Jack (ex-detento) e de Rose.

Rose é uma mulher jovem que, como muitas outras, procura atender a seus anseios sonhando com o estrelato. Como a maioria dos indivíduos que mora em grandes centros urbanos, que competem por vaga ou por espaço no mercado de trabalho, a protagonista almeja viver e, se possível, destacar -se por meio de conforto e de realização material.

No filme – e na vida –, quando nossos sonhos são esmagados pela dura realidade e as coisas não saem conforme planejado, temos de encontrar saídas para sobreviver. É nessa hora que nossos princípios e valores são testados.

Rose “cai” do estrelato no cinema para boates e clubes noturnos, onde começa a trabalhar como dançarina e stripper, para sobreviver e custear o tratamento do filho, vítima de acidente que o deixou em estado vegetativo em um hospital. Ela não tinha, na prostituição, uma escolha e anestesiava-se nas drogas, para se submeter às circunstâncias. No fundo, era uma pessoa perturbada por seu passado, carente e solitária, que segue os caminhos possíveis para realizar seus anseios. Queria o mesmo que todos nós: um lugar para si e ser feliz e amada.

Qwerty era uma pessoa boa, porém alienado e inábil na vida real. Tímido e fóbico social, sobrevivia isolando-se e esquivando-se de contato com a realidade e com as dificuldades da vida.

Em seu mundo à parte, ele interagia mais com animais e com pessoas mortas do que com indivíduos reais. Conservava, porém, princípios e valores que o levaram a preferir o fracasso financeiro a aceitar uma oportunidade financeira que envolveria a morte de um homem desesperado.

O encontro de Qwerty e Rose é marcado pela atração de dores e anseios semelhantes. Carentes, ambos viviam em solidão profunda, em suas almas ingenuamente infantis. Sentem-se seguros um com o outro, como se um espelhasse o outro, apesar de terem trilhado caminhos tão diferentes. O ponto marcante do encontro foi o acolhimento incondicional, bondoso e generoso prestado por Qwerty a Rose, que retribui da mesma forma. A bondade e o amor estimulam o melhor em nós, da mesma forma que a violência e a privação incitam o pior.

O caminho de Charlie cruza-se com o de Lexus. Ambos compartilham a dor da perda de um grande amor. Seguiram caminhos distintos na vida, mas irmanaram-se por meio da mesma dor; o sacro e o profano interligados pelo mesmo sentimento. Ambos atormentam-se por uma culpa não aplicável. Charlie sente-se responsável por uma fatalidade da qual foi apenas protagonista e não agente causador. Lexus culpa-se por não ser mulher e por não atender aos desejos de seu amado. Não aceita sua condição biológica, exigindo-se algo irreal: ser mulher. Por não sustentar o ódio por si mesmo, em momento de drama extremo, Lexus se mata. O encontro entre ambos os personagens e o impacto da morte de Lexus tiram Charlie de seu drama pessoal, levando-o a se abrir para o amor.

O filme ajuda-nos a refletir sobre a insustentabilidade de desejarmos o impossível, quando não aceitamos como somos ou rejeitarmos nossa condição humana. Lexus não aceitava seu corpo masculino, que abrigava sua alma feminina. Ele poderia ter ofertado seu amor feminino, mas não se exigir um corpo de mulher, que a natureza não lhe proveu e que nenhuma cirurgia no mundo poderia lhe dar. Uma operação, no máximo, deixaria o corpo de Lexus meramente semelhante ao de uma mulher. Quando alguém aceita e respeita sua condição pessoal, faz-se aceito e respeitado pelo outro e não precisa se moldar, adulterar-se e mutilar-se para ter o amor de que precisa.

Ao encontrar Rose, Jack tenta resgatar seu passado e o amor pela mãe de Rose, bem como aliviar sua dor e remorso por ter-se mantido afastado durante os 25 anos em que esteve na prisão. Ao saber que está com uma doença em fase terminal, aproxima-se de sua filha, o que lhe possibilita ajudar seu neto e realizar o grande sonho da filha. No fim, o homem redimido encontra-se com sua inocência. Powder Blue retrata o simbolismo da neve azul, do “azul” que torna mais leve a realidade crua e dura da vida.

Por Flávio Vervloet





Ao Entardecer

31 07 2009

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Sinopse
Ann Lord (Vanessa Redgrave) decide revelar às suas filhas Constance (Natasha Richardson) e Nina (Toni Collette) um segredo há muito guardado: que amou um homem chamado Harris (Patrick Burton) mais do que tudo em sua vida. Desnorteadas, as irmãs passam a analisar a vida da mãe e delas mesmas a fim de descobrir quem é Harris. Enquanto isso Ann relembra um final de semana ocorrido 50 anos antes, quando veio de Nova York para ser a madrinha de casamento de sua melhor amiga da escola, Lila (Mamie Gummer). Lá ela conhece Harris Arden, amigo íntimo da família de Lila, por quem Ann se apaixona.

Reflexões sobre o filme
Tema: Envelhecer, Escolhas, Livre-arbítrio

Um filme tocante que reflete a vida, seus acontecimentos, encontros e desencontros, o sentido da vida e de nossas existências.

Quem pode dizer, com certeza, que sempre fez, em determinada situação, a escolha certa ou errada? No momento atual – repleto de incentivos, estímulos e motivação para uma vida feita de escolhas, metas, decisões e alto desempenho –, esse filme, como muitos de seu gênero, questiona essas certezas. Não que não precisemos melhorar nosso desempenho e desenvolver a capacidade de fazer boas escolhas, mas será que podemos atribuir tamanho peso ou gravidade a nossas escolhas? Como viver pesando tudo entre certo e errado ou bom e ruim? Será que todos não desejamos as mesmas coisas, apesar de buscá-las em local e de forma diferente?

Em relação ao filme, quem está certa? A filha que vivia dentro dos padrões usuais de estabilidade profissional, matrimonial e familiar ou a que estava fora desses padrões? Anne, que tinha muitas expectativas na vida e que buscava ser livre para tomar decisões, ou Lila, que, mesmo sem amar, casou-se conforme o movimento e as sequências de acontecimentos de sua vida? Todas as nossas escolhas geram consequências, e é natural que assim seja. Mas como dizer que erramos só por que as consequências são ruins? Será que, de fato, poderíamos ter feito outra escolha? Em caso positivo, será que a teríamos sustentado ou evitado resultados insatisfatórios?

Nossas decisões são tomadas com base em somatório de forças internas e de tendências diversas, que são, muitas vezes, contraditórias. Nossas resoluções, em grande parte, são o resultado da ação da parte interna que mais pesou e tem força em nós. Mesmo querendo fazer a escolha “certa”, pesam, em cada escolha, nossos limites pessoais; crenças sobre a vida, sobre o outro e sobre nós mesmos; experiências pregressas; motivações internas; anseios pessoais; e, ainda, outras forças. Gostaríamos de ter a clareza que nos permitisse optar pelas escolhas perfeitas, e a força que nos permitisse sustentá-las, mas parece que a vida não é assim. Em todas as escolhas, teremos ganhos e perdas. Precisamos nos dar conta de que não há escolhas perfeitas. Portanto, fazer escolhas perfeitas não parece ser parâmetro muito útil. É necessário considerarmos que temos limites pessoais e que nem sempre podemos sustentar a vida com base nas escolhas que fizemos, por melhor que tenhamos escolhido.

Por tudo isso, fica muito difícil dizer que fizemos má escolha ou escolha errada em função de o resultado ter sido diferente do que desejávamos. No filme, a personagem Ann e sua amiga Lila refletem isso. Ann fez escolhas baseada em suas verdades, seguiu essas escolhas durante sua vida e deu o melhor de si. Sua vida foi plena e ela buscou, como pediu a suas filhas, ser feliz. É possível que, no fim da vida, tenha ficado com dúvidas sobre suas escolhas e se ressentido de algumas ações. Talvez na velhice, mais amadurecida pela própria experiência de vida, perceba alguns equívocos em seu discernimento e julgamento e em algumas de suas escolhas. O mesmo aconteceu com Lila. Como Ann, ela também fez escolhas com base em suas verdades e viveu conforme essas escolhas. Deu o melhor de si e sua vida foi, igualmente, plena. A vida de nenhuma das duas foi perfeita, como não o é a de ninguém. Buscamos todos as mesmas coisas: ser feliz e viver em plenitude, e parece que estamos todos a burilar e a aperfeiçoar nosso discernimento. Apesar dos receios, da incerteza e do novo, fazemos sempre escolhas, mesmo ao permanecermos no terreno do velho e do conhecido. O resultado de nossas escolhas dificilmente será perfeito. Mas, mesmo que o resultado não seja o que desejávamos, não significa que erramos, mas que tentamos e fizemos o melhor possível, que somos imperfeitos e que aprendemos na tentativa e no erro, aperfeiçoando o discernimento e a capacidade pessoal.

Outro ponto extremamente importante no filme é a reflexão sobre a culpa. A morte de Buddy muda totalmente a direção da vida de Ann e de Harris, que, presos na culpa, seguem caminhos diferentes dos que pediam seus corações. Se não trabalhamos a culpa, ela pode se tornar tormento e prisão, como no filme e na vida de muita gente. Sem adentrar o campo da Filosofia do Direito, é importante discernirmos o que de fato é nossa responsabilidade e, em cada caso, tomarmos cuidado para não assumir a parte do outro. É comum, nas pessoas muito responsáveis, a tendência à onipotência, a tomar tudo para si. É sempre importante lembrar que, além da sobrecarga que essa atitude gera, tiramos a responsabilidade e o poder pessoal do outro, tornando-o vítima, dependente e incapaz de gerir a própria vida, e passamos a carregar culpas que, muitas vezes, não nos pertencem. É um filme que vale a pena ser visto.

Por Flávio Vervloet