O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

28 07 2009

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Sinopse
Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo  e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.

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Reflexões sobre o filme

Tema: Aceitação da diferenças, pessoas sensíveis, aprender a sonhar.

Uma menina, filha única, privada do convívio de outras crianças e convivendo com os limites pessoais de seus pais, um distante e ausente (pai) e o outro irritável e neurótica (mãe) desenvolve um mundo muito particular e próprio. Desenvolve sua sensibilidade e senso de observação, sua imaginação e interage com o mundo através do filtro de sua particular visão de vida, das pessoas e de si mesma.

Adulta, ainda sensível e diferente fazia contato com as pessoas, mas não deixava que chegassem muito perto. Criava uma distancia segura com o meio e a realidade usual e vivia alheia mergulhada em seu mundo, até que com o episódio da pequena caixa de lembranças de um menino, e a presente emoção do agora adulto, viu uma possibilidade concreta de interferir no mundo das pessoas levando um pouquinho de seu próprio mundo de sonho, enfim sutilmente sem que percebessem, ensinando as pessoas a sonhar.

Ao final do filme ela se permite com a ajuda de um velho senhor, tocado por sua pureza e doçura, a um encontro amoroso onde finalmente enfrenta seus desafios. Apaixona-se por alguém semelhante a ela, um rapaz sensível igualmente marcado em sua infância.
É um filme que traz o tema da diferença e das pessoas não facilmente adaptadas. Pessoas que desenvolvem um mundo próprio para sobreviver e que ao fazê-lo desenvolvem apesar de todas as suas dores e dificuldades, habilidades e qualidades pouco usuais. Algumas ficam disfuncionais ou mesmo doentes outras no entanto buscam lidar com sua diferença e contribuir com o algo mais que brota a partir das dificuldades inerentes ao estado de sua diferença. Quantos são os diferentes, e pouco usuais em nossa sociedade? Quantos são os que se sentem pouco adaptados e até estrangeiros vindos de uma terra que são sabem onde é? Quantos são estes diferentes que se tornam artistas, dançarinos, músicos, idealistas, visionários, sonhadores que acabam muitas vezes sendo taxados ou realmente se tornam estranhos, excêntricos, lunáticos, rebeldes, esquisitos e alienados?

Se as diferenças fossem acolhidas é possível que funcionassem como complemento ou mesmo catalizadores de novas criações e de novas e brilhantes construções humanas. Se os pais acolhessem as diferenças de seus filhos e os ensinassem a se aperfeiçoar nelas e não a negá-las, é possível que teríamos adultos mais felizes e mais realizados com suas vidas.

Será que todos no fundo não são na realidade profundamente diferentes e únicos? Será que mesmo os que tiveram uma boa adaptação também no fundo não renunciaram a si mesmos desde novos para agradar aos outros? Será que no fundo do coração daqueles que se acham tão certos e dominantes, eles também não sentem, ou suspeitam que tudo isto é uma grande farsa?

Talvez tenhamos raiva da diferença externa por que ela nos lembra da nossa própria e de nossa solidão pessoal. Talvez a rejeição da diferença seja um claro temor de confrontarmos a nós mesmos e acolhermos que não somos perfeitos como gostaríamos.

Mas esquecemos que muitas vezes ao acolhermos a nossa imperfeição estamos acolhendo uma das mais preciosas de nossas qualidades, a nossa humanidade.

Por Flávio Vervloet