English Vinglish

13 09 2013
English

Ano de produção  2012

Dirigido por  Gauri Shinde

Com  SrideviAdil HussainMehdi Nebbou

Gênero  Drama , Comédia

Nacionalidade  Índia

Uma mulher passa por grandes dificuldades na sociedade onde vive, por ser tímida e por não falar inglês. As circunstâncias forçam-na a afirmar sua independência, inscrevendo-se em um curso de inglês e provando ao mundo que ela é tão capaz quanto qualquer outra mulher.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-208664/

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Indicação

Um filme leve, divertido, bem-humorado e, à primeira vista, despretensioso. Apesar de repleto de clichês, nos conduz a uma profunda reflexão sobre os papéis masculino/feminino, do que aprendemos a denominar atividade/passividade e também sobre a possibilidade de um mundo onde não haja “excluídos”, onde os seres humanos se amem e  respeitem as singularidades de cada um. Shashi é a representante de um universo onde a submissão e a anulação de sua identidade são regras para as mulheres. Ela vive a privação e a insatisfação de sequer tentar se realizar e perseguir seus anseios e sonhos. Se vitimiza e delega ao outro o reconhecimento de seu próprio valor, até que as circunstâncias da vida a empurram para uma tomada de decisão: é ficar congelada no velho e conhecido lugar de vítima ou se arriscar e assumir a responsabilidade por suas escolhas, tomando as  rédeas do próprio destino. A partir daí ela se decide e caminha rumo à sua autonomia. O caminho nem sempre será fácil, porém, trará consigo um enorme sentimento de amor-próprio e mais-valia.

Por Giselle Soares Oliveira – Regional Goiás





Minhas Tardes com Margueritte

10 09 2013

Minhas tardes com Margueritte

Título Original   La Tête en friche

Ano de produção 2010

Dirigido por Jean Becker

Com Gérard DepardieuGisèle CasadesusJean-François Stévenin mais

Gênero Comédia Drama

Nacionalidade França

 

Sinopse

Baseado no livro de Marie-Sabine e dirigido por Roger Jean Becker, o filme Minhas Tardes Com Margueritte conta a história de um daqueles improváveis encontros que podem mudar a vida de uma pessoa. A trama se passa em torno de Germain, um cinquentão quase analfabeto, e Margueritte (Gisèle Casadesus), uma senhora apaixonada por livros.
Quarenta anos e muitos quilos os separam, mas, por acaso, Germain (Gérard Depardieu) senta ao lado dela em um banco no parque. Ela recita versos em voz alta, dando a ele a chance de descobrir a magia dos livros, que nunca fizeram parte da vida dele.
As coisas mudam quando o homem descobre que Margueritte está perdendo a visão e, pelo carinho e afeto que foram criados da relação, ele se esforça para aprender e mostrar que ele poderá ler quando ela não puder mais.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-170300/

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Indicação 

Ternura, leveza, amizades sinceras e comportamentos humanos. Uma bela história de amizade e amor..

O cativante Germain não só vende os legumes e verduras como cultiva tudo em sua pequena horta. Sua relação com a namorada é de extrema delicadeza e, a partir de seu contato com Margueritte, percebemos como ele é sensível, amoroso e fraterno. É ele que cuida da mãe, que continua ranzinza até morrer. É ele que, nos momentos de necessidade, consola e dá guarida aos amigos. O brutamontes na verdade é um homem gentil e solidário.
Esse diamante quem dilapidou foi Margueritte, com a palavra, com a literatura. A palavra trouxe aquele menininho acuado para a realidade, de um mundo obscuro e introspectivo para a luz e o amor. Germain se esforça para aprender e ler para aquela que passou a ser sua verdadeira mãe, Margueritte.

O filme mostra, de forma delicada e sensível, que é possível ir além de nossas limitações, mesmo a partir de experiências infelizes, de falta de expressão de amor, carinho e apreciação. Que podemos, sempre, fazer novas escolhas pelo amor, pela amizade, pela generosidade e pela fé na VIDA

Por Giselle Soares Oliveira – Regional Goiás.





9 – A Salvação

15 01 2011

cartaz9brasil

Gênero: Animação, Aventura, Fantasia e Ficção Científica
Duração: 79 min.
Origem: Estados Unidos
Estréia 09 de Outubro de 2009
Direção: Shane Acker
Roteiro: Pamela Pettler e Shane Acker
Produção: PlayArte
Censura: Livre
Ano: 2009

Sinopse

Quando o boneco 9 ganha vida, ele se encontra num mundo pós-apocalíptico em que os humanos foram dizimados. Por acaso, encontra uma pequena comunidade de outros como ele, que estão escondidos das terríveis máquinas que vagam pela Terra com a intenção de exterminá-los. Apesar de ser o novato do grupo, 9 convence os demais que ficar escondido não os levará a nada.

Eles devem tomar a ofensiva se quiserem sobreviver e, antes disso, precisam descobrir por que as máquinas querem destruí-los. Como eles saberão em breve, o futuro da civilização pode depender deles.

Fonte da sinopse e ficha técnica: http://cinema10.com.br/filme/9

Para ler mais: Animação “9 – A Salvação” é produzida por Tim Burton – O Globo – http://tinyurl.com/yblax8t

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Reflexões sobre o filme

Um filme de animação com diversão e profundidade. Com muitas mensagens e com muito material para reflexões.

O roteiro é de um futuro assolado por máquinas mortíferas que destroem a humanidade, neste filme, no entanto, há uma mensagem de esperança. A de que se unirmos as diferenças, dentro e fora de nós, criaremos força de renovação e vida. Um filme que pelo que tudo indica é baseado no Eneagrama ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Eneagrama ) que descreve os 9 tipos de personalidade.  Este sistema descreve a queda e a ascensão possível da consciência humana, segundo nove padrões.

Os nove bonecos sobreviventes foram criados a partir dos nove aspectos de seu criador, cada aspecto diferente e complementar aos outros. A máquina também foi criada a partir da distorção e limitações dos nove tipos, e representa a morte e a aniquilação. Vida e morte, construção e destruição, união e separação, dualidades explícitas no filme que aponta a escolha da integração e união como antídoto para o mal.

Há uma fala que se repete muitas vezes no filme “busque na fonte…”. Na fonte está a resposta – no criador, na alma, no espírito do homem.

Ao “pacificador”, o tipo 9, ficou a tarefa de agregar o grupo e levá-los à meta de salvar os integrantes e destruir o monstro. No entanto,   só com a união das qualidades de cada tipo, o 9 pode levar a cabo sua missão. E curiosamente o monstro era movido pela “vida” de cada tipo em distorção. A luta entre os 9 e a máquina lembra o mito do herói enfrentando seus dragões, simbolizando a luta e batalha interior pela supremacia do bem.

Um filme encantador que vale a pena ser visto.  O diretor é Tim Burton, um nome  já bastante conhecido,  dirigiu  “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “A Noiva Cadáver” e  “O estranho mundo de Jack”, entre outros. Divirta-se e inspire-se.

Por Flávio Vervloet





Powder Blue

12 08 2009

POWDER BLUE (2009)

Forrest Whitaker as Charlie 1

Sinopse

Rose é uma stripper que, para salvar seu filho de doença terminal, tem sua vida entrelaçada com a de um ex-padre suicida, um ex-condenado e um agente funerário, em noite de réveillon.

Reflexões sobre o filme

Um filme denso, com forte carga dramática, no estilo de Crash e Magnólia. Os destinos de vários personagens se cruzam por caminhos espinhosos.

Há um desejo comum a todos os seres humanos: ter amor, felicidade, paz e uma boa vida. Mesmo que cada um interprete esses estados de alma de forma diferente, no fundo, de forma muito distinta e pessoal, buscamos as mesmas coisas. Com esse objetivo, cada um segue seu caminho, influenciado por seu passado; por suas experiências de vida; e pelo ambiente em que foi criado, incluindo família, amigos, escola, cultura e aspectos econômicos e sociais nos quais foi inserido.

Em função desses fatores, cada pessoa desenvolve uma forma de estar no mundo e de sobreviver. Mas, independentemente da direção e dos resultados dessas atitudes, que são induzidas por mecanismos de defesa e de sobrevivência, ansiamos por amor – sob a forma de aceitação, acolhimento e proteção –, por reconhecimento, por compartilhar e por nutrição afetiva.

Apesar de nossos anseios e necessidades serem semelhantes em algum nível, o resultado de nosso direcionamento nem sempre é o mesmo. Somos levados a pensar que, além da influência do meio e de tendências genéticas, há um “algo mais” que a ciência ainda não explica, que nos influencia a buscarmos caminhos que não compreendemos: o caráter.

Parece que nossas escolhas são menos gerenciáveis e voluntárias do que queríamos. Somos, muitas vezes, arrastados por impulsos e por motivações, por padrões de pensamento, por emoções e por atitudes que não dominamos ou, ao menos, não controlamos como gostaríamos.

O filme vale a pena ser visto. Trata de uma realidade profundamente humana, em que todos estamos insertos, ainda que nos sintamos acima dela. Todos vivemos pequenos e grandes dramas pessoais, que são, antes de tudo, profundamente humanos. As realidades desses dramas sociais e pessoais nos assemelham em algum nível, irmanando-nos.

A busca de um lugar para si, por caminhos diferentes. Um lugar-comum de solidão e de dor profunda que mora no coração anônimo da maior parte dos indivíduos em um grande centro urbano. O desespero de uma perda afetiva associado a sentimento de culpa e de castigo. A tentativa de reparar um passado desastroso. A busca desesperada de uma mulher para ajudar seu filho, que está em estado terminal e que representa o único sentido da vida dela. A carência e a solidão profundas aliviadas pela existência de um animal de estimação. O desejo de encontrar o amor em meio à tragédia, um sonho incansável de todo ser humano, ainda que alguns desistam dele.

Destaco três cenas do filme: a aproximação entre Qwerty (agente funerário) e Rose (stripper); o diálogo entre Charlie (ex-padre) e Lexus (travesti); e o encontro de Jack (ex-detento) e de Rose.

Rose é uma mulher jovem que, como muitas outras, procura atender a seus anseios sonhando com o estrelato. Como a maioria dos indivíduos que mora em grandes centros urbanos, que competem por vaga ou por espaço no mercado de trabalho, a protagonista almeja viver e, se possível, destacar -se por meio de conforto e de realização material.

No filme – e na vida –, quando nossos sonhos são esmagados pela dura realidade e as coisas não saem conforme planejado, temos de encontrar saídas para sobreviver. É nessa hora que nossos princípios e valores são testados.

Rose “cai” do estrelato no cinema para boates e clubes noturnos, onde começa a trabalhar como dançarina e stripper, para sobreviver e custear o tratamento do filho, vítima de acidente que o deixou em estado vegetativo em um hospital. Ela não tinha, na prostituição, uma escolha e anestesiava-se nas drogas, para se submeter às circunstâncias. No fundo, era uma pessoa perturbada por seu passado, carente e solitária, que segue os caminhos possíveis para realizar seus anseios. Queria o mesmo que todos nós: um lugar para si e ser feliz e amada.

Qwerty era uma pessoa boa, porém alienado e inábil na vida real. Tímido e fóbico social, sobrevivia isolando-se e esquivando-se de contato com a realidade e com as dificuldades da vida.

Em seu mundo à parte, ele interagia mais com animais e com pessoas mortas do que com indivíduos reais. Conservava, porém, princípios e valores que o levaram a preferir o fracasso financeiro a aceitar uma oportunidade financeira que envolveria a morte de um homem desesperado.

O encontro de Qwerty e Rose é marcado pela atração de dores e anseios semelhantes. Carentes, ambos viviam em solidão profunda, em suas almas ingenuamente infantis. Sentem-se seguros um com o outro, como se um espelhasse o outro, apesar de terem trilhado caminhos tão diferentes. O ponto marcante do encontro foi o acolhimento incondicional, bondoso e generoso prestado por Qwerty a Rose, que retribui da mesma forma. A bondade e o amor estimulam o melhor em nós, da mesma forma que a violência e a privação incitam o pior.

O caminho de Charlie cruza-se com o de Lexus. Ambos compartilham a dor da perda de um grande amor. Seguiram caminhos distintos na vida, mas irmanaram-se por meio da mesma dor; o sacro e o profano interligados pelo mesmo sentimento. Ambos atormentam-se por uma culpa não aplicável. Charlie sente-se responsável por uma fatalidade da qual foi apenas protagonista e não agente causador. Lexus culpa-se por não ser mulher e por não atender aos desejos de seu amado. Não aceita sua condição biológica, exigindo-se algo irreal: ser mulher. Por não sustentar o ódio por si mesmo, em momento de drama extremo, Lexus se mata. O encontro entre ambos os personagens e o impacto da morte de Lexus tiram Charlie de seu drama pessoal, levando-o a se abrir para o amor.

O filme ajuda-nos a refletir sobre a insustentabilidade de desejarmos o impossível, quando não aceitamos como somos ou rejeitarmos nossa condição humana. Lexus não aceitava seu corpo masculino, que abrigava sua alma feminina. Ele poderia ter ofertado seu amor feminino, mas não se exigir um corpo de mulher, que a natureza não lhe proveu e que nenhuma cirurgia no mundo poderia lhe dar. Uma operação, no máximo, deixaria o corpo de Lexus meramente semelhante ao de uma mulher. Quando alguém aceita e respeita sua condição pessoal, faz-se aceito e respeitado pelo outro e não precisa se moldar, adulterar-se e mutilar-se para ter o amor de que precisa.

Ao encontrar Rose, Jack tenta resgatar seu passado e o amor pela mãe de Rose, bem como aliviar sua dor e remorso por ter-se mantido afastado durante os 25 anos em que esteve na prisão. Ao saber que está com uma doença em fase terminal, aproxima-se de sua filha, o que lhe possibilita ajudar seu neto e realizar o grande sonho da filha. No fim, o homem redimido encontra-se com sua inocência. Powder Blue retrata o simbolismo da neve azul, do “azul” que torna mais leve a realidade crua e dura da vida.

Por Flávio Vervloet





Um Beijo Roubado

30 07 2009

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Sinopse
Nova York. Jeremy (Jude Law) administra um pequeno café e restaurante. Muito irritada, Elizabeth (Norah Jones) descobre que seu namorado comeu lá com outra mulher. Zangada com a traição dele, ela rompe o namoro e deixa suas chaves com Jeremy, caso seu ex-namorado as queira de volta. Elizabeth retorna ao café várias vezes e ela e Jeremy começam a se sentir bem atraídos um pelo outro. Mesmo assim ela sai da cidade e então viaja de ônibus para Memphis, Tennessee, onde tem dois empregos, pois quer economizar para comprar um carro. Sem revelar onde vive ou trabalha, ela manda um cartão-postal para Jeremy, que fracassa ao tentar localiza-la. Elizabeth conhece pessoas como o policial Arnie Copeland (David Strathairn), que se tornou alcoólatra pois não aceita o fato de Sue Lynne (Rachel Weisz), sua esposa, tê-lo deixado. Elizabeth testemunha o trágico desdobramento desta separação e, já em Nevada, conhece Leslie (Natalie Portman), que adora jogar pôquer por garantir que sabe “ler” o rosto das pessoas.

Fonte: http://www.adorocinema.com/filmes/beijo-roubado/beijo-roubado.asp

Reflexões sobre o filme
Tema: Relacionamentos
Subtema: Dificuldade de deixar ir, de que a vida siga seu fluxo e de lidar com perdas.

O filme trata de personagens incomuns, sensíveis e humanas.Elizabeth sofre uma perda afetiva e tenta entender o porquê. Não se conforma com o acontecido, não conseguindo se vê sem aquela pessoa em sua vida. O policial Arnie Copeland se tornou alcoólatra, pois não aceita o fato de Sue Lynne sua esposa, tê-lo deixado. Sue Lynne se afasta do marido que a sufocava, ansiava se ver livre dele e com sua morte sente a dor de não ter mais a garantia de seu amor. Todos com dificuldade de deixar que a vida siga seu fluxo após uma perda afetiva.

Uma jogadora profissional, Leslie, que adora jogar pôquer por garantir que sabe “ler” o rosto das pessoas, mas que não conhece sequer a si própria, tem uma relação difícil com o pai que a ensinou a não confiar em ninguém. Também com dificuldade de deixar o passado de sua relação com este pai a que se mantém presa até a vida adulta, apesar de se achar livre.

Um pote de chaves perdidas à espera de fechaduras para serem abertas que Jeremy mantinha como uma forma de se manter ligado a Katya, seu antigo relacionamento que lhe falou sobre a importância de manter estas chaves guardadas.

O filme traz uma reflexão, sobre a importância de liberar o passado para viver o presente. Como se abrir para o novo ainda preso no passado? como se abrir para um novo relacionamento ainda com o coração ocupado pelo vinculo desfeito ou que não deu certo?É natural que levemos um tempo para cicatrizar nossas feridas, tempo esse que varia de pessoa para pessoa. Mas é comum muitas vezes prolongarmos este tempo e nos apegarmos ao passado, ao conhecido, mesmo que não tenha sido assim tão bom. Agarramo-nos ao conhecido porque, esse podemos controlar e aparentemente evitarmos o sofrimento. Nos fechamos para o novo na esperança de não sofrermos e muitas vezes sofremos ainda mais, remoendo a dor da perda.
Se permitir o luto da perda na maioria das vezes é a melhor forma de processarmos esta perda. Senti-la, vive-la, expressa-la até que ela seja absorvida e a experiência ganhe um sentido maior. Mas ao negá-la ou nos apegarmos a ela nos a prolongamos e a mesma não pode ser integrada.

Outra mensagem significativa do filme é a das tortas de blueberry que nunca são comidas porque todos preferem as de outros sabores, mas que todos os dias, mesmo assim, são feitas novamente, na insistência que lembra a importância do valor de todos os sabores e a importância das diferenças individuais. Traz para reflexão sobre o valor e a riqueza das diferenças. A importância de considerarmos que apesar dos sabores conhecidos e buscados, eleitos como os desejáveis, há também os sabores exóticos, incomuns que são muitas vezes os inesquecíveis. Todos nós temos, além de nossos sabores/qualidades comuns e expostos porque desejáveis pela maioria, sabores/qualidades incomuns e raros que nos fazem únicos. Se nos prendemos ao comum e conhecido como podemos provar o inusitado e inesquecível? A espontaneidade mora por traz do ato e comportamento comum e por isto mesmo seguro, mas como acessar a espontaneidade se agarrando no conhecido e seguro?

Elizabeth no filme ousava na sua diferença ser esta torta de sabor distinto de todas as outras e Jeremy também se identificava com esta diferença, por isto insistia em mantê-la pronta em oferta apesar de não comê-la. O nome do filme (My Blueberry Nights) é uma referencia a importância desta diferença rejeitada por ser incomum, mas de igual valor.

Por Flávio Vervloet





As Horas

30 07 2009

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Sinopse
Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro “Mrs. Dalloway”. Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1949 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com Aids e morrendo.
http://www.adorocinema.com/filmes/the-hours/the-hours.asp

Reflexões sobre o filme

O filme gira em torno do romance “Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf, do livro descreve em especial a personalidade da personagem principal. Um tipo muito comum de personalidade que aparentemente se mostra como forte, decidida, onde tudo está bem e sob controle, mas que na verdade encobre melancolia, cansaço da vida, desesperança e muita dor.

Numa sociedade como aquela e ainda como nessa onde vivemos, onde a aparência é que conta, estar bem, estar feliz, ser otimista, estar para cima, é comum que as pessoas aprendam a ocultar seus sentimentos e guardá-los para si mesmas. Demonstrar sentimentos tornou-se sinal de fraqueza ou de dramatização, e ser sincero e verdadeiro tornou-se má educação e visto com maus olhos, então se torna mais seguro fazer de conta que tudo esta bem e que nada é problema. Esta era a forma de se comportar de Laura, Clarissa e de Leonard marido de Virginia Wolf.

Viviam as conseqüências de desencontros amorosos, conflitos, e medo da vida. Torturados no silêncio, na solidão e na reserva dos próprios sentimentos. Esta é uma realidade bastante comum para muitas pessoas e é também uma forma de evitar a dor e fazer a vida algo mais viável. É uma estratégia de sobrevivência valida como muitas outras, porém igualmente disfuncional, isto é, acaba gerando com o tempo mais dor e menos saídas. Em vão tentamos controlar os fatos, o destino e nossas reações buscando evitar a dor, mas como a vida não pode ser controlada quando nos deparamos com esta realidade nos desesperamos.

É necessário encontrarmos uma forma de lidarmos com nossa impotência ante alguns fatos e circunstâncias da vida e nos fortalecermos mesmo ante a impermanência e mutabilidade da vida. Foi o que aconteceu no final do filme quando Clarissa lida de uma forma nova com os fatos inesperados que surgem. É como se precisasse passar por algo tão impactante para desapegar-se de querer controlar os fatos e a vida.

No extremo oposto mostra outro tipo de personalidade, a da Virginia Wolf e a de Richard, que, apesar de sinceros e verdadeiros, tornam-se densos, pesados, duros e céticos ante a vida. Onde, apesar do orgulho da diferença e da coragem do enfrentamento caem muitas vezes no mesmo lugar, na desesperança e na desistência da vida. E da mesma forma seguem em direção a morte, não como um zumbi (morto-vivo) como no caso anterior, mas tirando a própria vida. Será desta forma a “banalidade” menos digna que a profundidade do sentir, quando o resultado é o mesmo? O que ligava Clarissa e Richard se não o anseio por profundidade por parte de Clarissa e a necessidade de leveza por Richard? O que é mais importante na vida, a profundidade ou a leveza? Talvez ambas sejam igualmente importantes, necessárias e complementares.

O filme traz uma reflexão entre a escolha de vida ou da morte. Mas vida desacreditada, descartada como superficial e frívola onde flertamos a morte dia a dia numa melancolia sem fim ainda não é também em algum nível negação a vida? Ou vida onde nos obrigamos a tudo, vivendo só de deveres sem direitos, superficializando nosso olhar da vida com medo de viver assolado por uma angustia silenciosa também não é negação da vida? Vida não seria ter coragem de sentir, viver, de acolher os fatos e circunstâncias mesmo desagradáveis como oportunidade se expansão de si mesmo, de humanização, ter esperança, criar e compartilhar do melhor em nós para o todo e também do melhor e pior de nós junto aos amigos? Não seria acolher o outro mesmo na sua imperfeição, como alguém que luta como nós para ser feliz e ter o melhor da vida? No filme vida é refletida no acolhimento de Clarissa e sua filha por Laura, ou de Leonard mesmo em sua limitação em relação a sua esposa Virginia, de Virginia em a sua doação à vida do melhor de si em sua criação literária, de Laura quando não foge de sua dor e remorso e sustenta seus sentimentos apesar de sua história, e de Richard quando mesmo na sua loucura e sofrimento vive ao longo de sua vida com coragem e determinação buscando honrar sua verdade e se permite ser acolhido pelo devotamento de Clarissa em sua doença.

Todos nós temos um anseio de vida e um flerte com a morte mesmo inconscientemente. E é necessário escolher que parte queremos nutrir, e fazer do flerte com a morte uma oportunidade de valorização a vida. Temos também que escolher que vida queremos enxergar e filtrar, aquela crua, dura, árida e desastrosa ou aquela leve, bela, rica, fecunda ou as duas porque são igualmente verdadeiras. Será que é possível sustentar a realidade crua e rica ao mesmo tempo? Será que uma invalida a outra ou são complementares?

No filme há duas falas da personagem Virginia Wolf que ilustra um pouco isto: “A vida desperta pelos contrastes e diferenças, pela dureza e coragem de viver”. Noutro trecho:”Não se pode ter paz evitando a vida”.

Outra reflexão do filme trata da dignidade da loucura. Sob a alegação de evitar o atentado a vida é justo privar o doente mental de sua individualidade reduzindo-o a um quadro clinico? Alguém com algum distúrbio mental não tem como contribuir ou produzir algo de valioso a sociedade? O individuo com distúrbios mentais também não tem direito de buscar sua felicidade e bem estar, não tem anseios naturais a serem buscados? Como conciliar a necessidade de cuidados e ajuda de profissionais de saúde, inclusive uso de medicação sem desrespeitar aquele que dela necessita e sua individualidade? Como preservar a dignidade do doente mental? O que seria de nossa humanidade sem a contribuição destas almas atormentadas, mas ricas, o que seria se todos os músicos, artistas, escritores, cientistas e outros criadores com distúrbios mentais se os dopássemos, e buscássemos enquadrá-los dentro de nossa normalidade? Será que não se pode ajudar a quem precisa sem reduzi-lo e diminuir sua grandeza humana? Será que muitas vezes junto ao distúrbio mental não há uma luta interna de alma que vale a pena conhecer e até com ela apreender? Por que tememos a loucura do outro e o tornamos apenas alguém com um problema, será que não é porque tememos a nossa própria loucura?

Uma outra reflexão a partir da ação da personagem Laura ou mesmo dos outros personagens: como julgar a ação do outro sem se colocar no lugar do mesmo? Será que sobre iguais circunstâncias, submetido à mesma historia de vida, lidando com as mesmas dificuldades não agiríamos também de forma que em outras circunstancias julgaríamos como repreensível? Quem de fato pode jogar a primeira pedra, se estamos tão longe da pureza da alma? Quem pode de fato dizer que desta água não beberei, sendo sincero o bastante ao reconhecer a própria imperfeição humana?

Por fim parafraseando o titulo do filme, como lidar com as horas, minutos, dias, semanas e anos enfrentando as dificuldades, sustentando os sentimentos e dores, sem se agarrar ao pessimismo, a crueza e a feiúra da vida e ao invés disto encontrar sempre um sentido maior que nos fixe nos momentos felizes, ricos e plenos da vida? Este parece um grande desafio e questão a ser resolvido por cada um de nós.

Por Flávio Vervloet





A Vila

30 07 2009

Avila

Sinopse
Em 1897 uma vila parece ser o local ideal para viver: tranqüila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de “Aquelas de Quem Não Falamos”. O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da vida rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da vila.

FONTE: http://www.adorocinema.com/filmes/vila/vila.asp

Reflexões sobre o filme

Este filme reflete a tendência comum do ser humano em tentar encobrir o mal, negando, escondendo, fugindo e ocultando-o como um segredo.No filme, a vila é uma tentativa de criação de um local, um mundo ou uma realidade sem maldade, sem distorções, onde somente o bem e a inocência tenham lugar, como um oásis no meio de um deserto, um lugar puro em meio à feiúra do mundo e da realidade humana.

Segundo Jung, tudo que negamos em nós, coisas boas e ruins, viram nossas sombras. Afirma também que é da natureza humana termos múltiplos aspectos polarizados e contrários. Tendemos em nosso dualismo negar o mal em vez de transformá-lo e integrá-lo. Desta forma, escondemos este nosso aspecto como um segredo que deve ser escondido a sete chaves, já que o tememos e sentimos dele vergonha.

Temos vergonha exatamente do que nos faz humanos. Ter o mal dentro de si não significa que tenhamos que atuá-lo ou usá-lo de forma destrutiva. Ao aceitar que isto é uma característica humana, podemos trazer às claras este aspecto, diminuir sua força e ter alguma escolha sobre ele. Aceitar sua existência sem negá-lo ou escondê-lo traz para nós força e coragem, escondê-lo gera medo e fraqueza.

Há linhas de psicoterapia que trabalham com estes aspectos sombrios quando necessitamos de ajuda externa. Mas procurar estar na verdade e termos a coragem de olhar e reconhecer nossas distorções sem culpa é algo que todos podemos fazer e é uma ação realista que nos fortalece.

Quantas pessoas, famílias, grupos, comunidades e sociedade são enfraquecidas pelos seus segredos. Os segredos geram pensamentos, mentiras, contaminam a confiança entre pessoas e a própria autoconfiança. Há um grande alívio quando nos liberamos do cárcere de nossos segredos e isto nos torna mais honrados .

A nossa honra está em sermos íntegros e verdadeiros, mesmo que falhos e humanos. Nossa honra não está na aparência e em nosso anseio de perfeição. No filme, um dos “anciãos” conclui: “perdi lá fora um familiar e aqui já perdi vários. Aprendi que o sofrimento faz parte da vida.”

Na “vila”, criaram uma realidade a parte, sustentada pelo terror e mentira com o intuito de encobrir a realidade comum e se afastar de uma sociedade violenta. Criaram uma comunidade “pura” e “inocente”, onde seus habitantes são humanos e imperfeitos, onde mais cedo ou mais tarde, o crime brota como uma realidade não transformada no coração e atos dos homens.

É mais fácil escravizarmo-nos do terror de um monstro externo que se perpetua na ignorância que enfrentar o “monstro” interno que poderia ser transformado. Ninguém precisa aceitar ou gostar da violência social e nem se adaptar a ela como algo desejável ou comum. Mas queiramos ou não a violência social é um reflexo de seus membros. A violência externa é o resultado da violência interna não transformada. Mas como transformar a violência interna sem aceitar sua existência como uma realidade humana? Como transformar a violência externa sem aceitá-la como fruto da “doença” individual de todos os seus membros e não de somente uma parte que tem que ser excluída, banida e castigada? Podemos até procurar proteção criando condomínios fechados, altos muros e fortalezas para nos afastarmos do fruto que nós mesmos ajudamos a criar. Mas levamos o inimigo dentro de nós para dentro da fortaleza, já que é parte de nossa natureza humana.

Como fortalecer o amor e a inocência em meio à mentira? Como preservar a inocência e proteção de nossos filhos sem ensiná-los a lidar com suas próprias destrutividades internas? Quanto tempo podemos afastá-los ou apartá-los do perigo, isolando-os da realidade humana à qual pertencem?

Por fim, o filme mostra uma saída no amor, que move montanhas, na cegueira que enxerga com os olhos da sabedoria dos sentimentos, e da coragem que se fortalece não no aparente bom senso, mas no ato humano de fazer o que tem que ser feito para preservar a vida digna sem medos.

Por Flávio Vervloet





O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

28 07 2009

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Sinopse
Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo  e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.

http://www.adorocinema.com.br/filmes/amelie-poulain/amelie-poulain.asp


Reflexões sobre o filme

Tema: Aceitação da diferenças, pessoas sensíveis, aprender a sonhar.

Uma menina, filha única, privada do convívio de outras crianças e convivendo com os limites pessoais de seus pais, um distante e ausente (pai) e o outro irritável e neurótica (mãe) desenvolve um mundo muito particular e próprio. Desenvolve sua sensibilidade e senso de observação, sua imaginação e interage com o mundo através do filtro de sua particular visão de vida, das pessoas e de si mesma.

Adulta, ainda sensível e diferente fazia contato com as pessoas, mas não deixava que chegassem muito perto. Criava uma distancia segura com o meio e a realidade usual e vivia alheia mergulhada em seu mundo, até que com o episódio da pequena caixa de lembranças de um menino, e a presente emoção do agora adulto, viu uma possibilidade concreta de interferir no mundo das pessoas levando um pouquinho de seu próprio mundo de sonho, enfim sutilmente sem que percebessem, ensinando as pessoas a sonhar.

Ao final do filme ela se permite com a ajuda de um velho senhor, tocado por sua pureza e doçura, a um encontro amoroso onde finalmente enfrenta seus desafios. Apaixona-se por alguém semelhante a ela, um rapaz sensível igualmente marcado em sua infância.
É um filme que traz o tema da diferença e das pessoas não facilmente adaptadas. Pessoas que desenvolvem um mundo próprio para sobreviver e que ao fazê-lo desenvolvem apesar de todas as suas dores e dificuldades, habilidades e qualidades pouco usuais. Algumas ficam disfuncionais ou mesmo doentes outras no entanto buscam lidar com sua diferença e contribuir com o algo mais que brota a partir das dificuldades inerentes ao estado de sua diferença. Quantos são os diferentes, e pouco usuais em nossa sociedade? Quantos são os que se sentem pouco adaptados e até estrangeiros vindos de uma terra que são sabem onde é? Quantos são estes diferentes que se tornam artistas, dançarinos, músicos, idealistas, visionários, sonhadores que acabam muitas vezes sendo taxados ou realmente se tornam estranhos, excêntricos, lunáticos, rebeldes, esquisitos e alienados?

Se as diferenças fossem acolhidas é possível que funcionassem como complemento ou mesmo catalizadores de novas criações e de novas e brilhantes construções humanas. Se os pais acolhessem as diferenças de seus filhos e os ensinassem a se aperfeiçoar nelas e não a negá-las, é possível que teríamos adultos mais felizes e mais realizados com suas vidas.

Será que todos no fundo não são na realidade profundamente diferentes e únicos? Será que mesmo os que tiveram uma boa adaptação também no fundo não renunciaram a si mesmos desde novos para agradar aos outros? Será que no fundo do coração daqueles que se acham tão certos e dominantes, eles também não sentem, ou suspeitam que tudo isto é uma grande farsa?

Talvez tenhamos raiva da diferença externa por que ela nos lembra da nossa própria e de nossa solidão pessoal. Talvez a rejeição da diferença seja um claro temor de confrontarmos a nós mesmos e acolhermos que não somos perfeitos como gostaríamos.

Mas esquecemos que muitas vezes ao acolhermos a nossa imperfeição estamos acolhendo uma das mais preciosas de nossas qualidades, a nossa humanidade.

Por Flávio Vervloet