9 – A Salvação

15 01 2011

cartaz9brasil

Gênero: Animação, Aventura, Fantasia e Ficção Científica
Duração: 79 min.
Origem: Estados Unidos
Estréia 09 de Outubro de 2009
Direção: Shane Acker
Roteiro: Pamela Pettler e Shane Acker
Produção: PlayArte
Censura: Livre
Ano: 2009

Sinopse

Quando o boneco 9 ganha vida, ele se encontra num mundo pós-apocalíptico em que os humanos foram dizimados. Por acaso, encontra uma pequena comunidade de outros como ele, que estão escondidos das terríveis máquinas que vagam pela Terra com a intenção de exterminá-los. Apesar de ser o novato do grupo, 9 convence os demais que ficar escondido não os levará a nada.

Eles devem tomar a ofensiva se quiserem sobreviver e, antes disso, precisam descobrir por que as máquinas querem destruí-los. Como eles saberão em breve, o futuro da civilização pode depender deles.

Fonte da sinopse e ficha técnica: http://cinema10.com.br/filme/9

Para ler mais: Animação “9 – A Salvação” é produzida por Tim Burton – O Globo – http://tinyurl.com/yblax8t

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Reflexões sobre o filme

Um filme de animação com diversão e profundidade. Com muitas mensagens e com muito material para reflexões.

O roteiro é de um futuro assolado por máquinas mortíferas que destroem a humanidade, neste filme, no entanto, há uma mensagem de esperança. A de que se unirmos as diferenças, dentro e fora de nós, criaremos força de renovação e vida. Um filme que pelo que tudo indica é baseado no Eneagrama ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Eneagrama ) que descreve os 9 tipos de personalidade.  Este sistema descreve a queda e a ascensão possível da consciência humana, segundo nove padrões.

Os nove bonecos sobreviventes foram criados a partir dos nove aspectos de seu criador, cada aspecto diferente e complementar aos outros. A máquina também foi criada a partir da distorção e limitações dos nove tipos, e representa a morte e a aniquilação. Vida e morte, construção e destruição, união e separação, dualidades explícitas no filme que aponta a escolha da integração e união como antídoto para o mal.

Há uma fala que se repete muitas vezes no filme “busque na fonte…”. Na fonte está a resposta – no criador, na alma, no espírito do homem.

Ao “pacificador”, o tipo 9, ficou a tarefa de agregar o grupo e levá-los à meta de salvar os integrantes e destruir o monstro. No entanto,   só com a união das qualidades de cada tipo, o 9 pode levar a cabo sua missão. E curiosamente o monstro era movido pela “vida” de cada tipo em distorção. A luta entre os 9 e a máquina lembra o mito do herói enfrentando seus dragões, simbolizando a luta e batalha interior pela supremacia do bem.

Um filme encantador que vale a pena ser visto.  O diretor é Tim Burton, um nome  já bastante conhecido,  dirigiu  “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, “A Noiva Cadáver” e  “O estranho mundo de Jack”, entre outros. Divirta-se e inspire-se.

Por Flávio Vervloet





Dúvida

12 10 2009

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Sinopse

O carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os rígidos costumes da escola St. Nicholas, localizada no Bronx. A diretora do local é a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que acredita no poder do medo e da disciplina. A escola aceitou recentemente seu primeiro aluno negro, Donald Miller (Joseph Foster), devido às mudanças políticas da época. Um dia a irmã James (Amy Adams) conta à diretora suas suspeitas sobre o padre Flynn, de que esteja dando atenção demais a Donald. É o suficiente para que a irmã Aloysius inicie uma cruzada moral contra o padre, tentando a qualquer custo expulsá-lo da escola.

Fonte da sinopse: http://www.adorocinema.com/filmes/duvida/duvida.asp

Reflexões sobre o filme

Este é um filme inteligente e bem elaborado que nos induz à confusão e à dúvida ao longo de todo seu enredo. A irmã, desde o início, torna-se alvo de preconceito, pois somos levados a percebê-la como “megera” e o padre como “bonzinho”. Normalmente na vida, quando em dúvida, todos nós buscamos nos firmar em uma “verdade”, mesmo que encontrada ou construída por conclusões apressadas, para aliviarmos a ansiedade de não saber discernir o “certo” do “errado”. No caso do filme, a tese de que a irmã é megera e o padre é humano e inocente. No transcorrer da história, no entanto, os fatos vão se esclarecendo, vamos percebendo outros aspectos importantes, que nos faz não ter mais certeza de quem de fato é culpado ou inocente, bom ou mau. E podemos ver, ao final, que os três personagens principais têm verdades e distorções, de tal forma que não é tão simples julgá-los, tal como achávamos ou gostaríamos.

O filme retrata a complexidade da verdade e o quanto, em sua busca, corremos o risco do erro e da injustiça. Mais: o filme nos mostra o quanto, apesar de nossas certezas internas, paira sobre nós a dúvida.

Temos a tendência de simplificar as situações em nosso julgamento, definindo rapidamente quem é o “mocinho” e quem é o “bandido” e não percebemos o quanto é difícil julgar e como é complexo  discernir o certo do errado. Declaramos rapidamente alguém culpado ou inocente, concluindo apressadamente a favor de um em detrimento de outro, sem perceber que a superficialidade dos elementos que temos para chegar a essa ou aquela conclusão.  O filme nos faz refletir como é difícil agradar as pessoas e ao mesmo tempo fazer valer a verdade.  Faz-nos lembrar também o quanto é necessário confrontarmos a nossa consciência e nos enxergarmos humanos, percebendo que de fato, em função da nossa complexidade, temos, ao mesmo tempo, um lado bom e outro ruim. Por isso, nem sempre estamos totalmente certos ou com a verdade, como gostaríamos. Precisamos enfrentar a nossa conivência e leniência com as nossas distorções,  muitas vezes ocultadas com nossa persona.

Será que basta reconhecermos nossa culpa ou o nosso erro? Ou é necessário também reconhecermos a nossa impotência em cessar de atuá-lo? E se este é o caso, será que a nossa impotência não indica que precisamos de ajuda para deter o comportamento em que estamos aprisionados?

É comum termos pena de nós mesmos e, conseqüentemente, dos outros. O que, num certo sentido, pode até explicar a conivência com distorções de conduta, seja com as nossas distorções ou a de outros.  Isso também explica, num outro extremo, quando somos implacáveis, também com as nossas ações e a de outros. Muitas vezes, para não sermos coniventes, vamos  em direção ao lado oposto e nos tornamos rígidos, duros e inflexíveis.

Existe uma verdade além das nossas verdades pessoais? Ou basta ter mais argumentos, argúcia, inteligência, esperteza para estarmos certos e por isto mesmo com a verdade? Comumente, cada um constrói suas verdades pessoais baseado em conclusões que tira a partir de suas experiências de vida. Conclusões estas que se tornam o filtro pelo qual interpretamos a realidade. Julgamos e agimos a partir deste discernimento pessoal.

Por toda esta reflexão que provoca, Dúvida é um filme que vale a pena ser visto.  Isso sem contar o fato de que, como sempre, Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman dão um show de interpretação.

Por Flávio Vervloet





Powder Blue

12 08 2009

POWDER BLUE (2009)

Forrest Whitaker as Charlie 1

Sinopse

Rose é uma stripper que, para salvar seu filho de doença terminal, tem sua vida entrelaçada com a de um ex-padre suicida, um ex-condenado e um agente funerário, em noite de réveillon.

Reflexões sobre o filme

Um filme denso, com forte carga dramática, no estilo de Crash e Magnólia. Os destinos de vários personagens se cruzam por caminhos espinhosos.

Há um desejo comum a todos os seres humanos: ter amor, felicidade, paz e uma boa vida. Mesmo que cada um interprete esses estados de alma de forma diferente, no fundo, de forma muito distinta e pessoal, buscamos as mesmas coisas. Com esse objetivo, cada um segue seu caminho, influenciado por seu passado; por suas experiências de vida; e pelo ambiente em que foi criado, incluindo família, amigos, escola, cultura e aspectos econômicos e sociais nos quais foi inserido.

Em função desses fatores, cada pessoa desenvolve uma forma de estar no mundo e de sobreviver. Mas, independentemente da direção e dos resultados dessas atitudes, que são induzidas por mecanismos de defesa e de sobrevivência, ansiamos por amor – sob a forma de aceitação, acolhimento e proteção –, por reconhecimento, por compartilhar e por nutrição afetiva.

Apesar de nossos anseios e necessidades serem semelhantes em algum nível, o resultado de nosso direcionamento nem sempre é o mesmo. Somos levados a pensar que, além da influência do meio e de tendências genéticas, há um “algo mais” que a ciência ainda não explica, que nos influencia a buscarmos caminhos que não compreendemos: o caráter.

Parece que nossas escolhas são menos gerenciáveis e voluntárias do que queríamos. Somos, muitas vezes, arrastados por impulsos e por motivações, por padrões de pensamento, por emoções e por atitudes que não dominamos ou, ao menos, não controlamos como gostaríamos.

O filme vale a pena ser visto. Trata de uma realidade profundamente humana, em que todos estamos insertos, ainda que nos sintamos acima dela. Todos vivemos pequenos e grandes dramas pessoais, que são, antes de tudo, profundamente humanos. As realidades desses dramas sociais e pessoais nos assemelham em algum nível, irmanando-nos.

A busca de um lugar para si, por caminhos diferentes. Um lugar-comum de solidão e de dor profunda que mora no coração anônimo da maior parte dos indivíduos em um grande centro urbano. O desespero de uma perda afetiva associado a sentimento de culpa e de castigo. A tentativa de reparar um passado desastroso. A busca desesperada de uma mulher para ajudar seu filho, que está em estado terminal e que representa o único sentido da vida dela. A carência e a solidão profundas aliviadas pela existência de um animal de estimação. O desejo de encontrar o amor em meio à tragédia, um sonho incansável de todo ser humano, ainda que alguns desistam dele.

Destaco três cenas do filme: a aproximação entre Qwerty (agente funerário) e Rose (stripper); o diálogo entre Charlie (ex-padre) e Lexus (travesti); e o encontro de Jack (ex-detento) e de Rose.

Rose é uma mulher jovem que, como muitas outras, procura atender a seus anseios sonhando com o estrelato. Como a maioria dos indivíduos que mora em grandes centros urbanos, que competem por vaga ou por espaço no mercado de trabalho, a protagonista almeja viver e, se possível, destacar -se por meio de conforto e de realização material.

No filme – e na vida –, quando nossos sonhos são esmagados pela dura realidade e as coisas não saem conforme planejado, temos de encontrar saídas para sobreviver. É nessa hora que nossos princípios e valores são testados.

Rose “cai” do estrelato no cinema para boates e clubes noturnos, onde começa a trabalhar como dançarina e stripper, para sobreviver e custear o tratamento do filho, vítima de acidente que o deixou em estado vegetativo em um hospital. Ela não tinha, na prostituição, uma escolha e anestesiava-se nas drogas, para se submeter às circunstâncias. No fundo, era uma pessoa perturbada por seu passado, carente e solitária, que segue os caminhos possíveis para realizar seus anseios. Queria o mesmo que todos nós: um lugar para si e ser feliz e amada.

Qwerty era uma pessoa boa, porém alienado e inábil na vida real. Tímido e fóbico social, sobrevivia isolando-se e esquivando-se de contato com a realidade e com as dificuldades da vida.

Em seu mundo à parte, ele interagia mais com animais e com pessoas mortas do que com indivíduos reais. Conservava, porém, princípios e valores que o levaram a preferir o fracasso financeiro a aceitar uma oportunidade financeira que envolveria a morte de um homem desesperado.

O encontro de Qwerty e Rose é marcado pela atração de dores e anseios semelhantes. Carentes, ambos viviam em solidão profunda, em suas almas ingenuamente infantis. Sentem-se seguros um com o outro, como se um espelhasse o outro, apesar de terem trilhado caminhos tão diferentes. O ponto marcante do encontro foi o acolhimento incondicional, bondoso e generoso prestado por Qwerty a Rose, que retribui da mesma forma. A bondade e o amor estimulam o melhor em nós, da mesma forma que a violência e a privação incitam o pior.

O caminho de Charlie cruza-se com o de Lexus. Ambos compartilham a dor da perda de um grande amor. Seguiram caminhos distintos na vida, mas irmanaram-se por meio da mesma dor; o sacro e o profano interligados pelo mesmo sentimento. Ambos atormentam-se por uma culpa não aplicável. Charlie sente-se responsável por uma fatalidade da qual foi apenas protagonista e não agente causador. Lexus culpa-se por não ser mulher e por não atender aos desejos de seu amado. Não aceita sua condição biológica, exigindo-se algo irreal: ser mulher. Por não sustentar o ódio por si mesmo, em momento de drama extremo, Lexus se mata. O encontro entre ambos os personagens e o impacto da morte de Lexus tiram Charlie de seu drama pessoal, levando-o a se abrir para o amor.

O filme ajuda-nos a refletir sobre a insustentabilidade de desejarmos o impossível, quando não aceitamos como somos ou rejeitarmos nossa condição humana. Lexus não aceitava seu corpo masculino, que abrigava sua alma feminina. Ele poderia ter ofertado seu amor feminino, mas não se exigir um corpo de mulher, que a natureza não lhe proveu e que nenhuma cirurgia no mundo poderia lhe dar. Uma operação, no máximo, deixaria o corpo de Lexus meramente semelhante ao de uma mulher. Quando alguém aceita e respeita sua condição pessoal, faz-se aceito e respeitado pelo outro e não precisa se moldar, adulterar-se e mutilar-se para ter o amor de que precisa.

Ao encontrar Rose, Jack tenta resgatar seu passado e o amor pela mãe de Rose, bem como aliviar sua dor e remorso por ter-se mantido afastado durante os 25 anos em que esteve na prisão. Ao saber que está com uma doença em fase terminal, aproxima-se de sua filha, o que lhe possibilita ajudar seu neto e realizar o grande sonho da filha. No fim, o homem redimido encontra-se com sua inocência. Powder Blue retrata o simbolismo da neve azul, do “azul” que torna mais leve a realidade crua e dura da vida.

Por Flávio Vervloet





Ao Entardecer

31 07 2009

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Sinopse
Ann Lord (Vanessa Redgrave) decide revelar às suas filhas Constance (Natasha Richardson) e Nina (Toni Collette) um segredo há muito guardado: que amou um homem chamado Harris (Patrick Burton) mais do que tudo em sua vida. Desnorteadas, as irmãs passam a analisar a vida da mãe e delas mesmas a fim de descobrir quem é Harris. Enquanto isso Ann relembra um final de semana ocorrido 50 anos antes, quando veio de Nova York para ser a madrinha de casamento de sua melhor amiga da escola, Lila (Mamie Gummer). Lá ela conhece Harris Arden, amigo íntimo da família de Lila, por quem Ann se apaixona.

Reflexões sobre o filme
Tema: Envelhecer, Escolhas, Livre-arbítrio

Um filme tocante que reflete a vida, seus acontecimentos, encontros e desencontros, o sentido da vida e de nossas existências.

Quem pode dizer, com certeza, que sempre fez, em determinada situação, a escolha certa ou errada? No momento atual – repleto de incentivos, estímulos e motivação para uma vida feita de escolhas, metas, decisões e alto desempenho –, esse filme, como muitos de seu gênero, questiona essas certezas. Não que não precisemos melhorar nosso desempenho e desenvolver a capacidade de fazer boas escolhas, mas será que podemos atribuir tamanho peso ou gravidade a nossas escolhas? Como viver pesando tudo entre certo e errado ou bom e ruim? Será que todos não desejamos as mesmas coisas, apesar de buscá-las em local e de forma diferente?

Em relação ao filme, quem está certa? A filha que vivia dentro dos padrões usuais de estabilidade profissional, matrimonial e familiar ou a que estava fora desses padrões? Anne, que tinha muitas expectativas na vida e que buscava ser livre para tomar decisões, ou Lila, que, mesmo sem amar, casou-se conforme o movimento e as sequências de acontecimentos de sua vida? Todas as nossas escolhas geram consequências, e é natural que assim seja. Mas como dizer que erramos só por que as consequências são ruins? Será que, de fato, poderíamos ter feito outra escolha? Em caso positivo, será que a teríamos sustentado ou evitado resultados insatisfatórios?

Nossas decisões são tomadas com base em somatório de forças internas e de tendências diversas, que são, muitas vezes, contraditórias. Nossas resoluções, em grande parte, são o resultado da ação da parte interna que mais pesou e tem força em nós. Mesmo querendo fazer a escolha “certa”, pesam, em cada escolha, nossos limites pessoais; crenças sobre a vida, sobre o outro e sobre nós mesmos; experiências pregressas; motivações internas; anseios pessoais; e, ainda, outras forças. Gostaríamos de ter a clareza que nos permitisse optar pelas escolhas perfeitas, e a força que nos permitisse sustentá-las, mas parece que a vida não é assim. Em todas as escolhas, teremos ganhos e perdas. Precisamos nos dar conta de que não há escolhas perfeitas. Portanto, fazer escolhas perfeitas não parece ser parâmetro muito útil. É necessário considerarmos que temos limites pessoais e que nem sempre podemos sustentar a vida com base nas escolhas que fizemos, por melhor que tenhamos escolhido.

Por tudo isso, fica muito difícil dizer que fizemos má escolha ou escolha errada em função de o resultado ter sido diferente do que desejávamos. No filme, a personagem Ann e sua amiga Lila refletem isso. Ann fez escolhas baseada em suas verdades, seguiu essas escolhas durante sua vida e deu o melhor de si. Sua vida foi plena e ela buscou, como pediu a suas filhas, ser feliz. É possível que, no fim da vida, tenha ficado com dúvidas sobre suas escolhas e se ressentido de algumas ações. Talvez na velhice, mais amadurecida pela própria experiência de vida, perceba alguns equívocos em seu discernimento e julgamento e em algumas de suas escolhas. O mesmo aconteceu com Lila. Como Ann, ela também fez escolhas com base em suas verdades e viveu conforme essas escolhas. Deu o melhor de si e sua vida foi, igualmente, plena. A vida de nenhuma das duas foi perfeita, como não o é a de ninguém. Buscamos todos as mesmas coisas: ser feliz e viver em plenitude, e parece que estamos todos a burilar e a aperfeiçoar nosso discernimento. Apesar dos receios, da incerteza e do novo, fazemos sempre escolhas, mesmo ao permanecermos no terreno do velho e do conhecido. O resultado de nossas escolhas dificilmente será perfeito. Mas, mesmo que o resultado não seja o que desejávamos, não significa que erramos, mas que tentamos e fizemos o melhor possível, que somos imperfeitos e que aprendemos na tentativa e no erro, aperfeiçoando o discernimento e a capacidade pessoal.

Outro ponto extremamente importante no filme é a reflexão sobre a culpa. A morte de Buddy muda totalmente a direção da vida de Ann e de Harris, que, presos na culpa, seguem caminhos diferentes dos que pediam seus corações. Se não trabalhamos a culpa, ela pode se tornar tormento e prisão, como no filme e na vida de muita gente. Sem adentrar o campo da Filosofia do Direito, é importante discernirmos o que de fato é nossa responsabilidade e, em cada caso, tomarmos cuidado para não assumir a parte do outro. É comum, nas pessoas muito responsáveis, a tendência à onipotência, a tomar tudo para si. É sempre importante lembrar que, além da sobrecarga que essa atitude gera, tiramos a responsabilidade e o poder pessoal do outro, tornando-o vítima, dependente e incapaz de gerir a própria vida, e passamos a carregar culpas que, muitas vezes, não nos pertencem. É um filme que vale a pena ser visto.

Por Flávio Vervloet